quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Imponderáveis

O ônibus às vezes demora pra chegar. Os momentos de espera são sempre mais difíceis quando a gente acha que a vida tem um sentido. Uma vez abri um livro para transformar a espera em tempo útil. A leitura, no entanto, ia emperrada pelo pensamento insistente que dizia que fazendo isso eu encontrava sentido pra vida fora da vida, na vida escrita há décadas. Complicações.
Melhor deixar de lado a literatura e observar as pessoas. Elas são sempre as mesmas, é uma fatalidade. Comprei uma cerveja e isso sim mudou as pessoas. O ônibus chegou e eu subi com a latinha aberta, nenhum problema.
Mesma coisa é a fila do banco. Nos filmes essas coisas até acontecem, duram alguns segundos pra simbolizar o tédio. De outro modo, aparece alguém com a audácia de dizer algo extraordinário, puxar conversa. Na vida real isso seria um privilégio. Segue a espera. Às vezes a gente espera por algo importante, por algo que exige tempo mesmo. Já outra coisa é esperar para pagar uma conta, para resolver detalhes burocráticos, mal entendidos de contratos. Diante desses momentos inevitáveis, a sanidade depende da confiança na aleatoriedade despropositada da Vida. Pequenas alegrias irão compensar tais amolações.
Quando chegou minha vez perguntei, "Mas e a soma das esperas todas? Há tempos curtos e tempos longos. Quero viajar no fim do ano que vem, por exemplo. Até lá preciso juntar dinheiro, resolver as coisas, finalizar compromissos." - "Esperando o que? Esperando por que?", respondeu o atendente. Peguei meu boleto e fui embora.

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