quarta-feira, 29 de julho de 2015

A ressaca

Estava fazendo bastante frio, a conversa não estava especialmente agradável e mesmo a cerveja não chegava a tornar as coisas mais interessantes. Ainda assim continuei bebendo e bebendo até que se criou uma compulsão irracional que me impeliu a envenenar com álcool meu corpo para além de qualquer limite. Claro, no dia seguinte, acordei inteiramente estragado, de forma que me restou apenas voltar a dormir. Minha cabeça doía quase sem nenhuma trégua, e meu estomago estava cheio de enjoo.
Além disso minhas ideias estiveram, ao longo do tempo que passei dormindo, impregnadas de desespero. Sonhei que estava num hospital e que lá tinha uma moça com uma sonda enfiada no braço. Por  acidente eu acabei esbarrando nessa sonda, que  se desprendeu da veia, permitindo que o sangue fluísse abundante para fora enquanto eu corria até o banheiro para pegar pedaços de papel higiênico. Quando retornei a moça estava comendo todo aquele sangue, que era negro e espesso como piche. Ela estava com a boca suja daquela pasta pegajosa que escorria manchando toda sua roupa.
Quando acordei a cabeça ainda doía. Mas depois passou. Daí concluí que a autodestruição nessas condições existe como um ritual de purificação. No entanto, não precisou de muito para perceber também que a tranquilidade depende da proximidade da lembrança da dor e que, passado um tempo, ela se transforma em mera normalidade. Obviamente, a normalidade é o alimento do tédio, que por sua vez será motivo para o reinício do ciclo.  

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